Slash não é um guitar hero à toa

(Foto: Arquivo pessoal Henrique Inglez de Souza)

Entrevistei o Slash três vezes, todas para a revista Guitar Player. A primeira foi há dez anos, em abril de 2007, durante a vinda do Velvet Revolver ao Brasil (abrindo para o Aerosmith). Lembro de chegar ao hotel deles, em São Paulo, e deparar com uma imagem bizarra: um bando de Slash covers rodeando o Steven Tyler verdadeiro, que não estava bem e ia a um hospital. Já aguardando diante da sala reservada à imprensa, o grupo apareceu, e me vi novamente em uma circunstância curiosa: no final do clipe de You Could Be Mine, do Guns N’ Roses. Passaram, em fila indiana e olhando para mim, Slash, Duff McKagan e Matt Sorum, de maneira bem parecida à do final do vídeo. Mas, não, eu não era Arnold Schwarzenegger.

Um produtor gringo frisou em descartável tom arrogante que eu só teria 5 minutos de conversa, pois a canseira após a viagem de avião e o trânsito na Marginal Pinheiros imperava. Aquilo me rendeu uma ansiedade louca, mas encarei, e foi melhor do que imaginei! Gentil e atencioso, o guitarrista mostrou-se interessado, inclusive nas perguntas que temia irritá-lo. Em determinado ponto, quis saber sobre a semelhança entre os riffs de Zero the Hero, música que o Black Sabbath lançou no disco Born Again (1983), e Paradise City, do Guns N’ Roses.

Perguntei-lhe se havia se “inspirado” no Sabbath. Ele deu um sorriso amistoso e mandou: “Um pouco. Eu gostava muito de Zero the Hero, mas escrevi Paradise City muito tempo depois. Quando ouvi novamente a música do Black Sabbath, pensei: ‘Droga! Está mais ou menos a mesma coisa’ [risos]. Não copiei a ideia, mas aquela melodia estava de alguma forma em minha cabeça. Foi incidental”.

Quando o mesquinho prazo se encerrou, o produtor abriu a porta da sala e esboçou estragar a minha festa. Porém, teve de dar meia-volta após receber um “cai fora” gestual do Slash. O encontro, então, estendeu-se por mais 20 minutos. A matéria estampou a capa da GP133.

A segunda entrevista que fiz com o ícone norte-americano ocorreu no início de 2012, para a GP191. Conversamos por telefone, assim como na derradeira oportunidade em que pudemos trocar ideias, a qual saiu na GP197. Esta última foi realizada meses adiante, no mesmo ano, e rendeu algo paralelo. A proposta era destrinchar faixa a faixa a edição deluxe do álbum Apocalyptic Love. Quando estávamos a três canções de terminar, a ligação caiu! Pensei que teria de improvisar com o que havia conseguido, já que dificilmente me agendariam um novo phoner (termo que designa uma entrevista por telefone agendada pelas gravadoras). Mesmo assim, resolvi escrever um e-mail à assessora e explicar o que se passara. Para minha total surpresa, eis que recebo uma resposta com um anexo. Por conta própria, o Slash decidiu pegar o celular, registrar o comentário da última faixa do disco e me enviar (via assessoria). Como o assunto era a edição deluxe, ficaram de fora os dois bônus. Então, armei a cara de pau e perguntei se não me completaria a pauta, e ele topou, enviando mais tarde as derradeiras gravações.

São passagens como essas que nos lembram do quão importante é um músico mundialmente renomado e venerado jamais deixar de ser de carne e osso. Ao contrário de alguns com quem esbarrei, Slash fez questão de não tirar os pés do chão – o que é ótimo! Imagino que hoje, de volta ao Guns N’ Roses, sua personalidade continue assim.

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