WOLFMOTHER

Reprodução


O Wolfmother é uma banda que apareceu dando todas as dicas de que seria um oásis no horizonte estafado do rock da década de 2000. A banda australiana ainda existe, mas está anos-luz aquém da potência que mostraram em seu primeiro disco, o homônimo de 2005. A formação era Andrew Stockdale (voz/guitarra), Chris Ross (baixo) e Myles Heskett (bateria).
 
Eles são de Melbourne e surgiram em 2000, trazendo composições com alto teor do rock pesado típico dos anos 1970. Embora fossem um grupo novo, a influência de Black Sabbath (fase 1969-1975), Led Zeppelin, Pink Floyd e AC/DC era tão evidente quanto bem trabalhada.

Em 2006, eu fiz uma entrevista com o divertido Chris Ross (que saiu da banda em 2008) para sair na revista Rocklife. A publicação, entretanto, sucumbiu às suas crises e encerrou as atividades antes que a edição com esse papo fosse realmente disponibilizada. Uma pena, pois a conversa rolou em um clima bem descontraído. Acabei engavetando.

Por esses dias, reencontrei o arquivo, e aqui vai o papo:

De onde vocês tiraram esse nome, Wolfmother?

Eu vi num livro chamado 'Skinny Legs and All', do Tom Robbins. É um livro superbom, com uma história meio louca, psicodélica (risos). No começo, "wolfmother" me pareceu nome de banda death metal alemã, mas depois acabei me acostumando e gostando. Agora, me soa um nome legal pra caramba!
 
Por que explorar a sonoridade dos anos 1970? A cena atual é tão chata assim?
 
Não! De jeito nenhum. Gosto de um monte de bandas novas e que fazem coisas diferentes de nós, como Hives, Strokes, Yeah Yeah Yeahs... Nossa sonoridade foi algo que aconteceu sem a menor intenção de remeter aos anos 1970. A gente sempre fez bastante jams, e foi durante esses ensaios que acabamos chegando a esse som meio “jam rock”, ou algo assim. Não somos presos a um tipo de música em especial. Gostamos de várias coisas, como o rock dos anos 1970, de músicas com bastante groove, como James Brown, e também de viagens, como Air e Pink Floyd. Enfim, foi muito natural a forma como desenvolvemos nossa sonoridade.
 
E sobre o que vocês gostam de escrever?
 
Na verdade, eu não gosto muito das nossas letras (risos). Mas, falando sério, a maioria das nossas letras também surge durante as jams. Faz parte do nosso processo criativo. O legal de trabalhar com o Andrew (Stockdale) é que ele consegue captar bem o que a música está pedindo. Depois, ele dá uma melhorada, mas as letras vêm de um processo subconsciente e consciente. Gostamos de interagir com a música de forma frenética, ao invés de alguém chegar com a letra pronta e dizer "Façam a música".
 
Qual é o tipo de casualidade que acontece nesse processo criativo?
 
Por exemplo, a canção 'Apple Tree' aconteceu enquanto testávamos os microfones. Eu estava balbuciando qualquer coisa e acabou soando legal. Não demorou para que o Andrew desenvolvesse a ideia e transformasse em música. A faixa 'Witchcraft' também ficou bem legal. Colocamos um solo de flauta que ficou sensacional.
 
O clipe de 'Mind’s Eye' tem bastante influência de Pink Floyd, não?
 
Sim, com certeza! Nós assistimos muito Pink Floyd durante as gravações do disco. O clipe teve muita influência disso. Foi legal produzi-lo. Nós gravamos num deserto. Temos planos para um próximo clipe, mas ainda sem previsão de quando gravaremos.
 
Qual foi o lugar mais distante que vocês já tocaram?
 
Bom, não é difícil estar distante da Austrália (risos). Talvez tenha sido num festival nos Estados Unidos. O Japão também foi diferente, embora esteja perto da Austrália. Essa, aliás, provavelmente tenha sido a experiência mais interessante. É uma cultura superdiferenciada.
 
E o Brasil, quando vocês vêm para cá?

Acho que no próximo ano, mas não há nada garantido ainda. Temos conversado a respeito, e tomara que role de ir para o Brasil em 2007.
 
Hoje, onde vocês têm mais público – exceto a Austrália?

Londres tem sido bom. A Inglaterra, de uma forma geral. Antes de voltarmos para uma turnê pela Austrália, fizemos um show inesquecível na Inglaterra. Tocamos para mais ou menos 3 mil pessoas. Nunca tínhamos feito um show para tanta gente. Aliás, quando voltamos para o nosso país, acabamos até fazendo uma apresentação ainda maior, para muito mais gente. Foi bem joia!
 
Quais são as referências australianas do Wolfmother?
 
AC/DC com certeza. Tenho caixas de discos deles. É uma puta influência. Mas também gostamos de The Saints e Nick Cave...
 
Você sabia que o Nick Cave morou no Brasil?
 
Sério? Não sabia não. Gosto bastante dele. Além desses, tem um monte de bandas novas daqui que são bem legais e uma da Nova Zelândia chamada Die! Die! Die!.
 
E que tal Men At Work?
 
O quê?!
 
Calma! Foi só uma brincadeira…
 
Eles são "muito" bons (risos sarcásticos). Bem que eu já tinha ouvido falar que são famosos no Brasil... Mas, por exemplo, uma banda que eu gostava bastante era o Midnight Oil. Sempre gostei de rock politizado como o deles ou até mesmo como o do Sepultura.
 
Qual foi a coisa mais estranha que vocês toparam pela estrada?
 
Foi um cara em Brisbane (Austrália). Depois de um show, ele foi até os camarins nos cumprimentar. Era baixinho e parecia um gnomo (risos). Lembro que ele usava um chapéu bem louco também. Ele queria que autografássemos um pôster e, enquanto assinávamos, disse: "Vocês também deveriam abraçar Deus". A gente não entendeu nada até que ele explicou: "Meu nome é Deus". Foi engraçado aquilo! Deus estava no nosso show e gostou do que viu (risos).
 
Vocês conheceram "Deus", então?
 
Conhecemos esse cara aí. Não sei se era Deus, mas se dizia um deus. Foi engraçado saber que Deus é um cara baixinho que parece um gnomo e mora em Brisbane (risos).
 
Que tipo de planos o Wolfmother está traçando para seu futuro?
 
Não sei, viu. Estamos bem empolgados com tudo que está acontecendo conosco. É interessante como já caminhamos bastante, e até gravamos nosso primeiro disco. Pretendemos continuar tocando por muito tempo e melhorar sempre, como músicos, sabe? Mas não sei. Vamos simplesmente seguir em frente e ver no que dá. Foi assim que chegamos até aqui. Então, é isso.
 
Henrique Inglez de Souza

Comentários