BIG JIM SULLIVAN

O ofício de músico de estúdio pode misturar sentimentos contrastantes, como o de grande prazer por estar ali tocando e a frustração pelo pouco reconhecimento popular. A necessidade e as circunstâncias de cada um acabam sendo determinantes em uma escolha que envolve paixão e profissionalismo. Apesar disso, há aqueles que se sobressaem e garantem um lugar na história. Esse foi o caso de um cara conhecido como Big Jim Sullivan.
 
A relevância desse britânico, cujo nome verdadeiro era James George Tomkins, pode e deve ser celebrada, mas calculável... a coisa complica. Fez centenas de gravações, muitas delas hits. Entre os anos 1960 e 70, trabalhou feito cão. Era mais procurado que serviço de atendimento ao consumidor de operadora de celular. Viveu e respirou, basicamente, o ambiente dos estúdios.
 
Sullivan começou a carreira no final da década de 1950, acompanhando o cantor pop Marty Wilde. Desde então, passou a alimentar o portfólio graças aos trabalhos com os mais variados artistas – George Harrison, Frank Zappa, Alvin Stardust, Tom Jones, Cliff Richard e muitos outros. Também foi importante para o início de verdadeiros mestres, como Jimmy Page (que também se sagrou um competente músico de estúdio/Led Zeppelin), Steve Howe (Yes, Asia) e Ritchie Blackmore (Deep Purple, Rainbow, Blackmore's Night), para quem deu aulas.
 
Além da destreza para encontrar a abordagem adequada a cada figura com quem dividia o estúdio, o guitarrista mantinha o foco em novos elementos. Atribui-se a ele uma das primeiras vezes em que se utilizou fuzzbox, feedback e talkbox. Em 1962, por sinal, junto com Pete Townshend (The Who) e Blackmore, convenceu Jim Marshall a fabricar amplificadores. Nada mau, hein?
 
A longa e rica jornada desse músico pioneiro, entretanto, chegou ao fim no último dia 2 de outubro, quando morreu, aos 71 anos. Entre as homenagens que ganharam a internet, a do ex-Deep Purple ganhou mais destaque.
 
"Conheci Jim Sullivan em 1958", escreveu Blackmore. "Nós vivíamos na mesma área: em Middlesex, Cranford [Inglaterra]. Ele estava tocando com Marty Wilde and the Wildcats. Ele me mostrou um outro nível de se tocar. Foi provavelmente o guitarrista mais avançado na região de Londres. Eu ouvia o rádio toda semana que havia um programa com o Marty Wilde. Muitas vezes, o Jim estava no programa, então me mantinha colado ao rádio. (...) Foi o primeiro a tocar com um pedal de wah-wah. Era um controlador de volume e tonalidade Deamond. Lembro-me de uma música instrumental chamada 'The Bat', em que ele usou o pedal. Isso teria sido por volta de 1959 [a gravação saiu em 1961]. A última vez que vi o Jim foi em Los Angeles [EUA], onde ele estava tocando com Tom Jones. Ele foi um dos melhores guitarristas da Inglaterra, um mentor e bom amigo para mim. Seu modo de tocar sempre estará no meu coração e sempre viverá".
 
 
Henrique Inglez de Souza

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