GENE SIMMONS

 
Hoje é o aniversário de Gene Simmons. Não que eu decore esse tipo de data, mas as milhares de homenagens pela internet me fizeram tomar conhecimento. Entre um vídeo aqui e outro ali, fotos e mais fotos, curiosidades e tal, me peguei revisitando minhas próprias memórias. Acabei saindo da frente do comutador para escolher o que ouvir. Quase de forma involuntária, fui direto ao Creatures of the Night.

Já falei sobre o impacto desse disco anteriormente, e nem é a ideia comentá-lo novamente. Mesmo porque, depois dele, visitei quase tudo que tenho do Kiss. Encare isso como uma forma de celebrar o dia do cara por trás dos negócios da marca da banda (e de outras coisas também). De certa forma, é mesmo. Mas também aproveito para comemorar junto.

Simmons é muito mais conhecido pelo carisma do que pelas habilidades de baixista e vocalista. Contudo, como instrumentista, tem sim méritos (medianos, mas tem). É um cara de melodias e não tecnicismos virtuosos. Pra mim, tal qual a imagem se ampara por atrás do figurino mascarado, suas qualidades estão impressas no quão as canções que faz ou toca atingem as pessoas. Tem carisma sobrando e sabe tingir de tal coloração aquilo que se propõe a fazer. De modo geral, funciona muito bem!

Mesmo lamentando que o grupo tenha se perdido nas próprias ambições comerciais desde 1998, não posso negar que ainda é ótimo vê-los ao vivo. O show é, de fato, um show – no sentido espetáculo. Apesar da idade de seus membros fundadores (Simmons e Paul Stanley, ambos sessentões), o que mais interessa está lá, preservado: energia e vibração. Sem essas coisas, é melhor sair de cena rapidinho.

O clima rockstar do Kiss tem um ar especial. Mudou conforme o tempo, mas continua sendo a cervical responsável por manter ativa a jornada de quatro décadas. Não conseguiria listar as “melhores” faixas do baixista/vocalista, pois minhas favoritas mudam de época em época. Bom, evidentemente, há as que chamo inoxidáveis, tipo 'Goin' Blind', 'Watchin' You', 'God of Thunder', 'Ladies Room', 'Christine Sixteen', 'X-Ray Eyes', 'Naked City', 'Killer', 'Good Girl Gone Bad' ou 'Unholy'. Coisas assim...

Ele não é perfeito, dá suas derrapadas – algumas até grotescas. A condição de astro não lhe anula os defeitos. Por outro lado, poderia tê-lo tornado um perfeito babaca, e, quanto a isso, a experiência que tive foi positiva e me mostrou que ele se manteve imune (de seus 63 anos completados hoje, os últimos quase 40 deles têm sido embalados por fama e sucesso de cifras estratosféricas).

Depois de algumas tentativas, finalmente consegui entrevistar o Gene Simmons. Foi no dia 27 de abril deste ano – coincidentemente, data do aniversário de seu ex-chapa de Kiss, Ace Frehley. O baixista/vocalista estava no Peru pela turnê 'Rock 'N' Roll Allstars', com integrantes e ex-integrantes de Def Leppard, The Cult, Deep Purple, Guns N' Roses e outras. Me atendeu com muita calma e simpatia, até estendemos os 20 minutos de papo originalmente estabelecidos por seu empresário. Só desligamos o telefone porque vieram chama-lo para a passagem de som. A entrevista estampou a capa da edição 9 da revista Bass Player (junho/2012).

Falamos de assuntos variados, com respostas interessadas e nada preguiçosas ou na má vontade. Certamente, aquela matéria está entre as melhores que fiz, por tudo que a envolveu. Sublinhou a minha caminhada profissional e brindou uma parcela considerável da minha vida. O Kiss foi a banda que me fez gostar de rock, lá na minha infância. Portanto, teve esse gostinho especial também, e me sinto bem pela chance de poder agradecê-lo por isso.

Esse é o tipo da coisa que me faz homenagear Gene Simmons em seu aniversário. Não pelo puxa-saquismo bobo, mas pela perspectiva que um dia ele no Kiss me permitiu enxergar e abraçar. Seja lá o enfoque de cada um, o meu será sempre o da inspiração – algo que toda criatura racional necessita diariamente. E minha cota ganhou nova dose cavalar quando conversamos, especialmente depois de lhe perguntar quem havia sido a pessoa mais importante para a sua carreira. Uma breve pausa e logo ouvi:

"Eu! Porque, quando se tem um sonho ou um desejo, não se pode esperar que alguém lhe dê o poder e a vontade para torná-lo realidade. Você tem de acordar todos os dias e se forçar a fazer isso acontecer. E faço isso bem com os negócios e a banda, em relação a ganhar dinheiro e coisas assim. Não sou perfeito. Ainda sou fraco e não consigo me controlar com biscoitos e bolo, e, às vezes, uso o telefone demasiadamente. Coisas assim. Mas a única maneira que você tem para fazer as coisas acontecerem e ser forte é estar no comando. Você tem que ser o chefe e tem que tomar as decisões. É como o que diz um viciado em drogas: 'Não importa o que falem, não importa a quantas reabilitações vai, o verdadeiro chefe é você. Quando decidir que não quer mais usar drogas será o momento em que fará isso'. Então, a pessoa mais importante fui eu. Eu sou o chefe!"

A resposta conseguiu ser genuinamente "Gene Simmons" e, ao mesmo tempo, revigorante. Às vezes, precisamos ouvir de outras pessoas aquilo que estamos cansados de repetir a nós mesmos. E efeito é similar ao de uma faxina impecável, só que em nosso estado de espírito. Teste você também!


Henrique Inglez de Souza

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