NÃO CONTÉM GLÚTEN

As pessoas gostam de merda. Evidentemente, não se trata de uma unanimidade, mas de uma maioria que quase encobre as boas exceções. Consomem porcarias variadas, e diariamente! Além dos fast foods, hot dogs, refrigerantes e salgadinhos, o cardápio inclui uma vasta lista de itens não-alimentares. E, nessa paisagem, a internet funciona como a principal praça de alimentação.

Não deveria, porém ainda fico impressionado com os inúmeros "curtir" e "compartilhar" destinados a tanta babaquice. E o engraçado é ver essa comilança de merda em meio a poses e cara de pau. Quando questionamos, ouvimos as desculpas mais esfarrapadas: só acharam engraçado, não tem nada demais, é só para tirar sarro...

Por causa de atitudes assim pudemos testemunhar a transformação dos românticos 15 minutos de fama para os agora concorridos cliques da fama. O problema é que o filão faz os grandes veículos salivarem e explorarem os "ídolos" virtuais até não sobrar nem bagaço. Tornam espaços preciosos em um lixão podre e nada aproveitável (principalmente em nível cultural).

Há casos latejantes de como a desgraça alheia vira moda... e pior: só "para nossa alegria". Obviamente, a ideia não é divulgar esse tipo de, digamos, artista (!!!), pois a falta de talento afasta qualquer possibilidade do tipo. O que conta mesmo é abocanhar audiência em cima de bobo-alegre que age conforme seu involuntário modo acéfalo de escolher. O final da história, todos sabem: um monte de porcaria ganhando o chão que poderia (e deveria) ser destinado, por exemplo, a músicos realmente músicos, bons. A estes, entretanto, cabe apenas suar sangue para conseguir sobrevivência, ao menos, no anonimato.

E é observando essa feira livre na internet que me vem a reflexão: Michel Teló é uma merda, mas coisas "para nossa alegria" valem. São legais. Estranho isso, hein? Não gosto do estilo musical do Teló, acho a letra da tal 'Ai Se Eu Te Pego' de uma criatividade semi-imbecil, mas isso não justifica a chuva de canivetes que resultou de seu sucesso. Para falar a verdade, passei a respeitar esse cara. Tem seu valor e está rodeado de profissionais competentes. Faz bem-feito aquilo a que se propôs. Além do que, assim como cada um de nós, trabalha aproveitando as oportunidades que surgem.

O meu respeito tem muito a ver com a dimensão que sua carreira tomou. Conseguir estourar fora do Brasil da forma como ele conseguiu é para poucos. Se eu ou você não gostamos das canções, é um ângulo muito pessoal, que não vem ao caso. O mérito existe. Só que aí aparece um monte de gente reclamando: "Olha só o que o Brasil está exportando de cultura". Bom, mesmo que prefiramos outras coisas, é egoísmo querer que só aquilo que gostamos ganhe terreno no exterior. Às vezes, esse monte de crítica ao Teló me soa papo de cara frustrado com a banda ou carreira medíocre que tem. Pior: ao invés de se esforçar para melhorar e batalhar pelo seu, fica detonando o dos outros como se isso adiantasse.

Mas não é por aí que a coisa funciona. Criticar dessa forma parece aquela coisa de criança dããã, de "se eu não tenho, vou detonar o de quem tem". Ou seja, humildade zero e mediocridade mil. Aliás, esse pessoal age como num clubinho: todos odeiam e gostam das mesmas coisas. São opiniões pré-fabricadas e de conteúdo superficial. Pura falta de personalidade, daquelas de dar diarreia mental crônica! E depois ainda me vêm falar em ter atitude, estilo próprio. Papo furado!

É por isso que o nível cultural brasileiro anda tão baixo. Tem sobrevivido à base de modinhas de internet, as quais se renovam da mesma maneira que a descarga prepara o vaso sanitário para a próxima cagada. Quais são os tipos de parâmetros aplicados para se selecionar o que é e não é bom? Até aqui, de evidente mesmo, só notei um: as pessoas gostam de consumir merda para arrotar cultura.

Henrique Inglez de Souza

Comentários

  1. Me impressionei com seu texto(de novo!). Achei que eu fosse a única a respeitar profissionalmente o Teló, não só pelo fato de ele também ser músico, mas por considerar todo o contexto e que ele está inserido. Que bom, fico feliz! E que muitas pessoas leiam - e principalmente *entendam* o que vc escreveu. Mas é mesmo preciso ter humildade pra encarar.
    Parabéns mais uma vez! A última frase é pra pôster.

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  2. Oi, Pohl! Que ótima visita aqui nos coomments do blog! Uma surpresa dessa sempre embeleza qualquer texto, pensamento, ideia... os quais só valem estar em um pôster se houver uma moldura como isso que comentou. Valeu pelas palavras! Pois é, tem muita gente que só sabe cuspir de forma gratuita, sem ao menos parar para reparar nas próprias atitudes.

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