EU NÃO MATEI JOANA D'ARC

Sabe aquele famoso bordão "meu nome é Bond, James Bond"? Pude experimentar algo parecido, mas sem o mesmo glamour cinematográfico. Tive de telefonar para a secretaria da minha faculdade para resolver algo burocrático. Quem me atendeu foi uma simpática moça, que me repetiu o seguinte depois de eu não entender o que disse: "Meu nome é D'Arc, Joana D'Arc".

Quis ser gente boa com ela e fiz uma brincadeira. Perguntei se era a heroína francesa ou a musa da música do Camisa de Vênus (que, aliás, dá na mesma). Antes de desligar na minha cara, ouvi um nada simpático: "Sei disso, não!" Cheguei a pensar em procurá-la pessoalmente para me desculpar, mas desisti. Preferi revisitar meus discos de vinil em busca dessa canção, que já não escutava há tempos e que me traz boas lembranças.

'Eu Não Matei Joana D'Arc' saiu junto com o disco 'Batalhões de Estranhos' (RGE, produzido por Reinaldo B. Brito), de 1985. Um EP 'double mix' também foi lançado, com duas mixagens diferentes dessa faixa e de 'Bete Morreu', outra pérola do grupo. O trabalho foi lançado em um período em que ainda havia quem se arrepiasse com o termo camisa-de-vênus. Por isso, ter uma música veiculada nas rádios e ainda vê-la se transformar em um sucesso pelo país era um feito e tanto. Foi assim que Marcelo Nova (vocal), Robério Santana (baixo), Gustavo Mullem (guitarra), Karl Franz Hummel (guitarra) e Aldo Machado (bateria) se projetaram efetivamente, conseguindo seu primeiro hit.

A música surgiu do puro acaso. A filha mais velha de Marcelo Nova, Penélope (que recentemente ficou conhecida como apresentadora de TV), precisava fazer um trabalho para escola sobre Joana D'Arc. Pediu uma mãozinha ao papai roqueiro, que não sabia muito sobre o assunto e precisou dar aquela pesquisada. Acabou se interessando pelo que leu.

O vocalista descobriu coisas das quais gostou, como saber que a heroína ouvia vozes falando a respeito de sua missão e do que devia fazer, o que evitar, para onde ir. Ele encontrou ali inspiração para escrever a letra que conhecemos. Para isso, juntou fatos históricos com a hipotética situação de ilustrar Joana D'Arc vivendo em plenos anos 1980. Surgiram, então, analogias como a da lança e a rainha da França junto com a CIA e a KGB.

Conclusão: Penélope fez seu trabalho escolar e Marcelo Nova uma letra, que ainda recebeu a colaboração de Gustavo Mullem na composição dos riffs. Quanto a nós, ganhamos um dos refrães mais grudentos do rock: "Ontem eu nem a vi/Sei que eu não tenho um álibi/Mas eu... /Eu não matei Joana D'Arc".


Henrique Inglez de Souza

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