COLETIVA DO METALLICA: NADA COMO VER DE PERTO

O Metallica sempre foi uma banda que eu gostei à distância. Está longe de ser um dos meus grupos preferidos, mas tem muitas músicas das quais eu gosto bastante. Acho que o saldo é positivo. Respeito e reconheço a importância deles para o metal mundial e curto ouvir de vez em quando ou ir aos shows (os poucos que temos a chance de ver por aqui).

Acho também que eles representam algo sobre o qual venho refletindo nos últimos tempos: essa coisa de ídolos, fama e celebridades (terminho que tem me dado pavor atualmente). Depois que comecei a ter contato com esses grandes nomes da música, o meu lado fã foi encontrando o seu devido lugar: apenas o de curtir os discos ou shows. É incrível essa experiência iconoclasta involuntária!

No caso do Metallica, pensei nisso depois da coletiva de imprensa que aconteceu quando eles estiveram no Brasil em janeiro de 2010. Foi no Estádio do Morumbi, São Paulo – mesmo local de alguns dos shows. Achei os caras tão nem aí e pouco atenciosos, que me dei conta do quão decepcionante pode ser alguém se deixar levar pela imagem fantasiosa criada por muitos fãs e veículos da mídia.

Vamos do começo. Imagine aquele calor, sala apertada, lotada de profissionais e pouco tempo para arrancar o máximo de informação dos músicos. Aliás, os 30 minutos que teríamos foram encurtados em, pelo menos, 10 ou 15 minutos porque a banda chegou atrasada – e pensa que eles compensaram a pisada de bola? Que nada! Assim que deu o horário previsto para terminar a coletiva, sumiram rapidinho.

Só para se ter uma ideia, se dez pessoas conseguiram perguntar alguma coisa, foi muito (tinha muuuita gente lá, acredite). Eu consegui fazer a minha para a revista Guitar Player, e foi respondida pelo Kirk Hammett. O clima, em si, foi tranquilo, descontraído – o mínimo que se pode esperar para se ter um bom relacionamento profissional. Porém, quando a produção anunciou o fim do papo, a coisa mudou.

Antes que eles pudessem deixar a sala, corri para tentar fazer mais uma pergunta ao mesmo Hammett. Consegui chegar perto dele e perguntei se não poderia me dar mais um único depoimento. Ele não disse nada. Fez uma cara meio de “é que estamos indo embora” e mexeu a cabeça como se tivesse caçando mosca.

Foi tudo bem rápido. Quando tentei lhe explicar o que gostaria de saber, uma muralha humana chegou do meu lado, encostou o rosto no meu ouvido e, com um olhar nada amistoso, disparou (em inglês): “acabou!!” – referindo-se à coletiva.

Era um dos seguranças do Metallica, imagino eu, que usou de toda a sua grosseria como se eu fosse um tiete pentelho querendo tirar fotos e conseguir autógrafo desesperadamente. Tomei um susto tamanho que, quando me virei novamente para falar com o Hammett, esse já estava longe. Saiu na maciota, ao invés de amansar a fera e conversar como qualquer mortal faria.

Ok! São coisas que fazem parte, principalmente por se tratar de uma banda popular, recordista no mundo inteiro e bastante requisitada. Contudo, eles estavam atendendo a imprensa, ferramenta importante para a manutenção justamente desse status todo. Ninguém estava ali para paparicar. O tal guitarrista poderia ter sido menos “intocável” e mais pé-no-chão. Depois dessa, passei a ficar mais convicto de que sucesso mal-digerido estraga.

Henrique Inglez de Souza

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