ANDY SUMMERS: UM GUITARRISTA SEM GUITARRA

Ser jornalista, fazer reportagens e coberturas são algumas das melhores coisas da vida – ainda mais se for na área da música. Foi fácil decidir o que faria do meu futuro profissional. Só não imaginava o quão poderia ser complicado decidir o que fazer em determinadas situações que o trabalho iria me impor ao longo dos anos, principalmente no começo dessa trajetória.

Lembro que a primeira entrevista com um músico estrangeiro foi logo com um mestre sem par: Andy Summers. Era 2005 e eu estava escrevendo para a revista Guitar Player há poucos meses e ainda não havia me deparado com alguém desse porte. Mas OK, vamos lá! O guitarrista inglês iria fazer um workshop em um conservatório de São Paulo.

Entrei em contato com a produção do evento para solicitar uma exclusiva e o cara que me atendeu disse: “Eu até poderia marcar a entrevista, mas não sei nem se o Andy vai mesmo fazer o workshop”. Curioso, perguntei o porquê disso e ele me contou que, caso eles não conseguissem especificamente uma Gibson ES-335, ele não daria as caras no evento – que começaria umas quatro ou cinco horas mais tarde daquele instante. Complicado, hein?

Eu sabia que o Andy Summers iria atender a imprensa (se ele fosse, claro), mas responderia a uma pergunta de cada veículo e só. Eu queria mais, tinha de ser uma exclusiva! Então, propus ao cara do conservatório: “Se eu conseguir a guitarra, você me arruma a exclusiva?”. Ele topou na hora. Negócio fechado! Como eu conhecia um pessoal das lojas de instrumentos musicais de São Paulo, fiz meia dúzia de telefonemas (correndo) e acabei conseguindo em cima da hora, e com sorte (ufa!). Foi uma missão que talvez nem o agente Jack Bauer (lembra dele?) conseguisse.

Depois de um respiro, preparei umas perguntas e lá fui eu para o workshop, que teve participação e mediação do blueseiro brasileiro André Christovam. Foi tudo bem, o local estava lotado e lá estava Summers com a Gibson ES-335 que eu havia conseguido – descobri que ele simplesmente não havia trazido sua guitarra ao país. Vai entender...

Pois bem, assim que o evento acabou e os fãs conseguiram pedir autógrafos e tirar fotos, chegou a vez da imprensa. Nesse momento, lembrei o cara do conservatório de nosso trato. Ele fez uma expressão de “e agora, não sei se vai rolar”. Mas nada que um refresco de memória não o fizesse se empenhar um pouco mais. Apesar disso, acabei descolando a exclusiva e, finalmente, chegava a hora da minha primeira entrevista com um músico estrangeiro.

Em uma sala reservada, lá fomos nós. Meu nervosismo era visível. O André Christovam acabou gentilmente dando uma força, o que foi ótimo já que Andy Summers estava com uma cara fechada e com aquele ar de “acabe logo com isso, pois quero voltar para o hotel o quanto antes”. Não tive muito tempo. Fiz duas ou três perguntas e o guitarrista pediu para encerrarmos porque, adivinhe, precisava voltar para o hotel. "Sem problemas, Andy. Muito obrigado pela entrevista" - disse. E assim finalizei aquele dia de muita correria, mas de extrema satisfação profissional.

Voltei para casa de ônibus ouvindo no meu walkman (sim, isso mesmo!) uma fita com canções do Police só para dar aquela relaxada. E devo confessar: você passa a escutar de outra forma aquelas músicas depois de bater um papo com o guitarrista que as gravou. Faz bem para a alma.

Henrique Inglez de Souza

Comentários